Brad Crowley veio nos procurar para bater um papo sobre seus livros e sua carreira literária. Conversamos sobre sua inspiração indisciplinada, suas temáticas diversas e o caminho que encontrou para se divulgar...
Sobre
Brad Crowley é o pseudônimo de Sérgio Soares. Ele é formado em direito e biologia e sempre teve paixão por romances policiais. A imaginação fértil e a facilidade em perceber padrões comportamentais alimentam sua criação literária. Atualmente tem três livros publicados: Perseguição Frenética, Quem dá as Cartas? e Conspiração na Babilônia.
Diz-se influenciado por: Agatha Christie, Michael Crichton, Patricia Highsmith, Anne Rice, Stieg Larsson, Camilla Läckberg, James Joyce, Virginia Woolf, Edgar Allan Poe e Clarice Lispector.
Livros Preferidos
Livro de Ficção — "Semente do Diabo", do Dean Koontz
Livro Não-Ficção — "Uma Breve História do Tempo", do Stephen Hawking, "O Enigma do Homem", do Edgar Morin e "A Falsa Medida do Homem", do Stephen J Gould.
Perguntas
Brad: Então… escrever histórias, não. Eu escrevia alguma coisa, tinha um caderno que escrevia anotações, escrevi algo sobre a história da mesopotâmia, uma lista de verbos em latim, coisas assim que não eram exatamente literatura. Escrevia também uns capítulos soltos, mas que não era bem um livro, não tinham nem os mesmos personagens.
Foi só a partir de 2012 que resolvi escrever um livro, uma história. E isso aconteceu porque eu assistia muito filme policial, série policial, e muitas vezes a história não era bem como eu gostaria que fosse, sabe? Eu não ficava satisfeito com a história ou com os personagens… então eu criava uma história na minha cabeça do jeito que eu queria que aquela fosse. Fui criando retalhos, pedaços de cenas, até que resolvi juntar essas cenas e começar a fazer um livro.
Eu também trabalhava longe de casa e pegava muito trânsito, era uma hora e meia de trânsito, e isso deixa a gente aborrecido. Então eu ficava imaginando os capítulos na minha cabeça — a maioria das coisas que escrevo é romance policial —, então eu ia imaginando as tramas, porque a trama policial precisa ser bem amarrada, não dá pra deixar fio solto. E aí, eu fui escrevendo no trânsito, na sala do dentista, caminhando na rua, no barzinho com os amigos… As ideias iam vindo e daí eu chegava em casa, fazia umas anotações bem rápidas antes de dormir e, no fim de semana, eu escrevia um capítulo inteiro.
Brad: Bom, lá por 2015, eu já tinha um manuscrito pronto e tentei mandar para uma dessas editoras tradicionais, a Record, Arqueiro, a Sextante… essas que não cobram do autor para publicar. Eles pedem várias coisas: sinopse, argumento, o manuscrito… Só que eles me deram umas respostas muito desencorajadoras… Eu recebi só negativas ou o silêncio absoluto. Falavam que a cota para autor nacional tava esgotada e que só tinham espaço para 2018… 2020… E aí eu deixei quieto.
Só que ano passado, eu falei assim: eu tenho oito livros escritos e mais três que estão em andamento, vamos ver como é que são essas editoras de serviço, essas que cobram do autor.
Ficcionados: E como é que tem sido a experiência?
Uma coisa que me deixou decepcionado foi essa falta de empenho da prestadora de serviço. A editora não fez o menor esforço para vender o meu livro, nem o mínimo. Mas paciência, eu queria ter um livro mesmo, sabe? Foi uma experiência válida, não me arrependo. E agora que já fiz isso, conheço um caminho um pouco melhor.
Brad: Para escrever precisa de disciplina. Quando chegava no fim de semana e eu tinha aquelas três ou quatro horinhas no sábado, aquelas três ou quatro horinhas no domingo, eu sentava no computador, pegava minhas anotações e ia tentando desenvolver os capítulos.
A inspiração é indisciplinada, ela vem quando você menos espera, como no trânsito e tal: tô pensando em qualquer coisa e de repente me vem uma ideia boa. Então não tem como sentar e dizer: “agora eu vou criar alguma coisa”. A criação é espontânea, mas a escrita depende de disciplina, a gente precisa de um horário para pegar e colocar no papel o que já criou.
Ficcionados: E essas anotações você fazia onde? No celular, carregava um caderninho ou coisa assim?
Brad: Quando eu tava no trânsito, eu tinha um bloquinho. O carro parava e eu anotava no bloquinho, bem garrancho mesmo, só para eu me lembrar depois. Às vezes também, eu chegava em casa de noite e tava com aquilo na cabeça ainda fresco e fazia umas anotações rápidas. Deixava lá para o fim de semana.
Brad: Teve dois motivos. Um: é óbvio que a maioria dos filmes e séries que assisto se passa nos Estados Unidos. E dois: eu sou meio cosmopolita mesmo, vocês é que não viram os outros livros. O meu nono se passa na Holanda. Tem livro que se passa na Alemanha, na Rússia, no Brasil, na Austrália… quer dizer, eu escrevo em várias partes do mundo, não acho que devo ficar só num lugar, entende?
Ficcionados: E você já viajou para algum desses países?
Brad: Sim. Não para os Estados Unidos, mas a Europa eu conheço bastante. Já fui três vezes para lá. Então quando eu tava escrevendo sobre a Holanda, eu pude escrever com bastante propriedade, porque eu já tive em Amsterdã, Utrecht, conheço direitinho lá para poder descrever.
Brad: Tem um outro livro meu que se chama Vírus, que é sobre a construção de uma arma biológica letal e eu usei os meus conhecimentos de biologia molecular para poder escrever. É óbvio que se você tem conhecimento em uma área, isso te ajuda a ter ideias sobre aquilo.
Eu também sempre gostei de filmes de Corte, sabe? Esses filmes de julgamento, com advogado, promotor… Apesar da legislação americana ser bem diferente da brasileira, dá para entender o que tá acontecendo. Então sim, eu ter formação nessas áreas me deu um interesse a mais para escrever sobre isso e também ficou mais fácil, eu sei o que tô falando.
Brad: Eu estudei Tarot quando tava no terceiro colegial, faz tempo já, eu tinha uns 17 anos, eu era todo místico, gostava de Tarot, achava bem mágico, diferente, e estudei bastante. Aí quando eu fui fazer esse romance policial, como eu já tinha escrito outros quatro, eu quis adicionar algo um pouco diferente, um elemento novo que não se vê em outras tramas policiais. Então pensei na cigana que lia Tarot porque o cara era supersticioso.
Ficcionados: E já estudou algo só para escrever?
Brad: Na verdade não. Tarot eu já conhecia, a história da Mesopotâmia eu já conhecia, a biologia molecular eu já conhecia… a verdade é que eu sou bem comodista, porque só escrevi sobre os temas que já conhecia bastante.
Brad: Achei o Espaço Livre Marketing na internet por coincidência. E vi que era a única agência de marketing especializada e voltada para literatura. Pensei que era superadequado para mim, o cara se coloca como uma pessoa que escreve também… E na verdade agora que eu conheço ele, sei que é uma pessoa que escreve e que lê os meus livros, e tá até fazendo agora um booktrailer para o “Quem dá as Cartas?”, um cara super bem interessado, que me passa muita confiança, sabe? Ele trabalha demais, vocês não fazem ideia, eu mando um email sábado dez e meia da noite e ele me responde! Trabalha mesmo! Eu tô supersatisfeito, ele criou um site, um blog, gerencia o tráfego, minhas redes sociais e as ações de divulgação.
Assim, eu sou novato, não sei direito o que tem que fazer, e tudo o que eu fiz antigamente tinha sido sugestão de alguém. Eu não saberia o que fazer para me divulgar. Até no instagram, tem vídeos que eu tapei a câmera e são só locuções, trechos dos livros para as pessoas escutarem um pouquinho. Eu peguei minha irmã, uns amigos meus, uma amiga minha… e a gente fez.
Na verdade, eu tô bem satisfeito com o instagram, quase todo dia alguém pede para fazer uma resenha do meu livro. Eu envio, a pessoa lê, demora um pouquinho e tal, mas faz uma resenha. As resenhas têm sido bem positivas, tô gostando muito disso, não sei se ajuda alguma coisa, mas tá bem divulgado no Instagram. Acabei de ir no Correio colocar um grupo desses, dos três livros publicados, para alguém que já tem quase oito mil seguidores, e aí cheguei em casa e já tinha outro pedido desses.
Brad: Essa história é muito engraçada. Como eu achei que tinha um estilo meio diferente, escolhi primeiro um pseudônimo com nome russo, chamado Andrei. Mas achei que ficaria muito esquisito um escritor brasileiro com nome e sobrenome russo, então inventei um sobrenome italiano: ficou Andrei Trentini.
Aí quando peguei esse livro que vocês leram, o Perseguição Frenética, com a história toda nos Estados Unidos, e com o pseudônimo Andrei Trentini, eu dei para o meu pai ler. E ele disse: “Que pseudônimo idiota é esse? Olha isso! Parece uma quimera, não tem sentido nenhum! Se é um livro que se passa nos Estados Unidos, tem muito mais apelo você colocar um pseudônimo de origem anglo-saxã, vai chamar atenção já que brasileiro gosta tanto de coisas em inglês.”
Então criei o Brad Crowley. Mas me arrependo, hoje eu faria com o meu nome mesmo.
Brad: Eu iria insistir um pouco mais nas editoras tradicionais. Elas dão uma retaguarda, uma força muito maior para divulgar, porque eu sozinho sou só um amador. Talvez também pegar um agente editorial que pudesse me ajudar nisso, pudesse me colocar lá nas editoras.
Brad: Não se intimida não, ninguém quer gastar fortunas, mas é uma aventura que vale a pena. Faça!
Eu demorei muito para escrever, comecei a pensar em publicar em 2015 e só fui fazer isso em 2018… então manda a ver! Mas faz um livro só, não faz essa loucura que nem eu, que fiz três.
E se for fazer com uma dessas prestadoras de serviço, escolha uma barata — eu até tenho umas para indicar —, que não fique com seu arquivo retido na mão. Apenas uma editora fez isso comigo, eles fizeram a diagramação, a capa, montaram o livro, pegaram o ISBN, a ficha catalográfica, tudo que precisa fazer para editar um livro, deram o arquivo na minha mão e me indicaram três gráficas. Foi a editora que cobrou mais barato, foi a mais honesta. As outras me prometeram mil divulgações e acabou não rolando, tanto fez, deu na mesma. Nunca mais vou fazer com elas.
Mas, enfim, eu acho escrever uma maravilha. Se alguém tiver vontade de fazer, não perca essa oportunidade. É uma experiência excelente! É uma satisfação imensa poder colocar para fora as suas ideias, as suas fantasias… É como te falei no começo, se você assistiu um filme ou uma série que não teve exatamente o jeito que você queria, faz você o seu jeito! Você escreve a sua história e isso é imperdível!
Obrigado pela participação, Brad :)
E se você ainda não conhece, dê uma olhada em “Perseguição Frenética”, onde um pacato veterinário de Chicago se vê envolvido em um grande jogo político e é obrigado a fugir pelas estradas do meio-oeste americano. Supersticioso, ele espera que o Tarot possa dar uma luz para os problemas, ao mesmo tempo que conta com a ajuda de um policial durão e uma jovem misteriosa. “Perseguição Frenética” forma o pacote de estreia de Brad Crowley, junto com “Quem dá as cartas?” e “Conspiração na Babilônia”.