Se você for do tipo de escritor que sonha em escrever livros e viver apenas da renda deles, prepare-se para dar alguns passos no escuro.
Essa é uma jornada que tem tudo para ser tortuosa. Provavelmente você vai se perder uma porção de vezes e, em cada uma delas, vai precisar buscar a motivação para corrigir a rota e seguir em frente.
Várias vezes esse vai parecer um sonho tolo, inalcançável, reservado a poucos. Não existe uma fórmula mágica para criar boas histórias, muito menos uma direção certeira que guie suas decisões de carreira.
Mas isso você já sabe. Sabe também que muitos levam a escrita em paralelo a uma profissão “de verdade”. Na espera de um dia, enfim, encontrar o caminho certo e completar a jornada.
Enquanto esse dia não chega, acostume-se a andar no escuro. Faça as pazes com suas inseguranças e esteja atento para qualquer sinal, seja um indicador de que você está indo para o lugar certo ou se perdendo mais.
Mas esteja realmente atento, pois esses sinais são sutis e nunca apontam para um caminho claro, bem direcionado. A maior certeza da jornada é a sua incerteza.
É como empreender. Você tem uma ideia e deixa que ela te guia. Há técnicas, é claro, mas elas nada mais são do que aprimoramentos da sua percepção. Elas treinam sua capacidade de perceber os sinais, de identificar para onde sua ideia está te levando antes que se perca demais.
E você logo estará se equilibrando entre confiança e insegurança, expressão e impressão, liberdade e certezas.
Não Há uma Única Jornada
Há as mais diversas histórias de empreendedores bem sucedidos. Cada uma possui suas particularidades e desafios. E é aconselhado a novos empreendedores que devorem esses estudos de caso e tirem deles o maior número de lições possíveis.
Porém é difícil um empreendedor ler apenas a biografia de Steve Jobs e se tornar completamente preparado. Quer dizer, Jobs deixou um rastro a ser estudado e fazer o que ele fez é um caminho possível. Porém as escolhas relacionadas a esse caminho são mais incertas e numerosas do que as de prestar um concurso público. E mesmo todas as escolhas que ele fez não abrangem todas as que um empreendedor pode enfrentar.
Para ser um escritor é a mesma coisa. É interessante saber que Harry Potter foi recusado várias vezes até finalmente ser aceito por uma editora pequena. Mas seria a perseverança de J. K. Rowling tudo o que você precisa para chegar lá?
Li recentemente “4 Roteiros”, de Syd Field. Em um dos capítulos, ele transcreve uma conversa que teve com Jim Cameron (o diretor e roteirista de Alien, Exterminador do Futuro, Titanic, Avatar… e um dos maiores especialista em efeitos especiais da história do cinema). Jim conta um pouco de sua trajetória, dos bicos que fez e como chegou aos trinta sem uma carreira estável.
“Eu me matriculei numa faculdade e estudei […] cálculo, química, física, astronomia, que eu adorava. E mesmo tirando boas notas, eu sabia que não era aquilo que queria fazer da vida, então mudei e fiquei um tempo estudando literatura. Ainda assim, não conseguia me decidir sobre o que fazer e então simplesmente larguei os estudos. Trabalhei um tempo numa loja e depois como motorista de caminhão, motorista de ônibus escolar, e à noite pintava quadros e escrevia histórias.”
Mais tarde ele começou a se interessar pelo cinema e por efeitos especiais:
“Eu ia para a biblioteca e pegava qualquer tese sobre impressão óptica, ou projeção frontal, ou correção de cores, qualquer coisa relacionada à tecnologia de cinema. […] Eu me preparava para ir lá como quem vai para uma missão tática, encontrava o que precisava saber e levava para casa.”
“Sempre achei que as pessoas procuravam a informação de que precisavam. Elas procuram e acham. É como usar a forquilha para achar água; ninguém lhe mostra o caminho. Você tem que descobrir por si mesmo.”
Se você quer ser roteirista, a história de Cameron pode servir de inspiração e até te ajudar a tomar algumas decisões. Mas no fim, você precisa de coragem para seguir enfrentando seus próprios problemas de percurso.
Aprenda com os Outros, mas Faça o Seu Próprio Caminho
Acho que essa é a melhor sintetização da jornada: conheça quantas histórias de sucesso puder e use-as para modelar a sua. E com conhecer as histórias, eu quero dizer realmente conhecer, não ouvir falar. Entenda os desafios, as escolhas difíceis que os outros tiveram que tomar.
É preciso ganhar essa percepção de que você não é o único, nem o primeiro, a desejar os seus desejos e a enfrentar a perdição de segui-los ou a se conformar com a desolação de abandoná-los. Ter consciência dessas batalhas anteriores, atenua a nossa própria e nos deixa mais conectados ao mundo.
Tem uma fala em “O Apanhador no Campo de Centeio”, de J. D. Salinger, que resume bem esse pensamento e vai além:
“Você não está de maneira nenhuma sozinho nesse terreno, e se sentirá estimulado e entusiasmado quando souber disso. Muitos […], muitos mesmo, enfrentaram os mesmos problemas morais e espirituais que você está enfrentando agora. Felizmente, alguns deles guardaram um registro de seus problemas. Você aprenderá com eles, se quiser. Da mesma forma que, algum dia, se você tiver alguma coisa a oferecer, alguém irá aprender alguma coisa de você. É um belo arranjo recíproco. E não é instrução. É história. É poesia.”
Ir buscar respostas na literatura, em biografias ou em discursos é válido. Mas além de ganhar consciências das batalhas anteriores, pode ser igualmente interessante perceber as paralelas. Troque experiências com aqueles que buscam os mesmos objetivos que você, tenho certeza que em uma conversa dessas a ajuda acabará sendo mútua.
Não deixe também, de dar uma olhada em nossa coluna de entrevistas!