Conversamos com o escritor Luciano Teixeira sobre escrita, publicação, inspiração e mais alguns aspectos da vida do escritor. Foi um papo muito interessante, vale a leitura!
Sobre
Luciano Teixeira é natural do Mato Grosso do Sul, mas, depois de alguns anos de visitas, mudou-se para o litoral catarinense, no município de Bombinhas. A experiência da mudança e de conhecer o mar mexeu com ele, motivando-o a escrever um livro de poesias que autopublicou recentemente, 101 poemas do mar.
Livros Preferidos
Livro não ficção - "No coração do mar", de Nathaniel Philbrick
Livro ficção - "O velho e o mar", de Ernest Hemingway
Perguntas
Luciano: Eu não tenho principalmente uma ligação clássica com a poesia, essa intimidade romântica com a poesia. Na verdade eu nunca me vi como um escritor nem publicando um livro; surgiu realmente por conta dessa inspiração. Então é uma obra despretensiosa, não estudei para isso, não fiz nenhuma análise profunda de toda a poesia clássica, contemporânea. Então por conta disso não me vejo como uma poeta, por conta da leveza e da singularidade da obra; ela surgiu por um propósito de retribuir ao mar toda a inspiração que ele me deu. Toda a possibilidade de transformação de vida, então eu acho que ele surgiu como uma missão, um retorno para o mar, não um trabalho poético.
Luciano:É que é uma responsabilidade muito grande eu dizer que sou um poeta, entendeu? Eu não li a maioria dos livros de poesia, não conheço grande parte dos poetas, não sou um entendedor dessas obras todas, nem brasileiras nem estrangeiras. Eu me considero um escritor, mas não um escritor poeta.
A minha motivação de divulgar esse livro não é ter um impacto financeiro, o que quero é que ele vá para o Brasil inteiro com a finalidade de emocionar as pessoas, quero que ele leve esses sentimentos, porque é uma obra muito verdadeira. Minha motivação era jogar para fora tudo o que estava guardado em mim.
Luciano: Para esse livro eu precisei mesmo de inspiração, porque eu já conhecia o mar como turista, então a partir do momento que me mudei pra Bombinhas e não precisava mais sair, eu me coloquei numa condição de inspiração ao invés de buscar técnicas e métodos. Então eu me sentava na areia, observava a natureza, as gaivotas, os pescadores, o movimento que as ondas faziam, o dançar dos barquinhos na água, as curvas das montanhas, então todos os meus poemas tem uma reflexão direta de tudo o que eu vi e de tudo o que senti. Não busquei inspiração em outras obras ou em outros contextos, era tudo o que estava diante dos meus olhos e do meu coração.
Às vezes, eu solicitava a mim mesmo um tema prévio e produzia algo com base nele. Teve uma vez que eu estava ouvindo uma música do Lenine, “O Último Pôr do Sol”, e achei a letra bastante agradável, então até busquei escrever com base nela. Mas sempre tendo em vista o mar.
É claro que depois que a gente prepara o rascunho, precisa trabalhar pra ficar harmonioso, pra ter uma rima agradável, que tivesse uma sonoridade de canção. Então isso foi trabalhado depois de toda a produção dos rascunhos, eu voltei com o livro fazendo edições temporárias, a cada dois ou três meses eu voltava e fazia edições.
Luciano: Durante esse tempo houveram alguns intervalos porque eu queria que a obra saísse de dentro de mim, não queria que fosse uma coisa superficial. Então calculando uns dois intervalos de um ou dois meses, foram dois anos para a produção dos poemas, depois mais seis meses de edição e preparação do livro para ser impresso.
Luciano: A princípio eu queria uma possibilidade que ele se tornasse livro, porque isso fazia parte de um projeto. Então busquei meios para q isso acontecesse. O Primeiro deles foi ir atrás de editoras tradicionais para fazer a edição, o lançamento e a distribuição, mas não deu muito certo; recebi bastante não, bastante explicações de que esse não era o momento certo, ou porque a editora não trabalhava com poemas. Então devido a essa dificuldade surgiu a ideia de lançar independente.
E fazendo a pesquisa eu vi que essa era realmente a melhor escolha para o meu momento, minha situação. Acho que foi um fator positivo nenhuma editora ter se interessado pela obra, então comecei a estudar o assunto. Comecei a pesquisar na internet como publicar um livro de maneira independente, como levar ele até as pessoas, custos, possibilidades…
E aí o Google me fornecia várias alternativas. Lembro que uma delas era fechar um valor casado entre a publicação do livro e o lançamento em um evento, mais uma certa quantia de exemplares impressos. Mas isso funcionava melhor em grandes cidades, porque essas editoras eram de grandes centros e já tinham um público preparado para isso. Mas como eu moro numa cidade pequena era difícil para eu chegar nesses locais. Por isso decidi fazer tudo através da contratação: contratei um estúdio para fazer a edição e depois uma gráfica para fazer a impressão.
Luciano: Eu fiquei bem satisfeito. Fiquei satisfeito porque a escolha do estúdio foi bem-feita. Eles me passaram muita segurança e tranquilidade, pessoal bem acessível que me deu toda uma estrutura para deixar na mão deles a elaboração do projeto e me mostrar como seria depois de impresso com alguns modelos que eles já tinham. Então foi bem pontual, bem seguro e fiquei muito satisfeito.
O que eu mais gostei da versão impressa foi a textura das páginas, ela dá um afeto ao toque que para mim é um grande charme da obra.
Luciano: É, eu tinha os textos e a ideia de como eu queria que ficassem o interior das páginas, o cabeçalho… tudo isso foi uma indicação direta minha. Eles então foram aprimorando.
Luciano: Minha estratégia principal é pelo Facebook, pela minha página, e circulando em eventos pela região, estou buscando contatos que me dão oportunidades de participar de feiras culturais. E nessas ocasiões eu faço uma divulgação direta com o público, o que é diferente do Facebook, porque nesses eventos eu consigo levar melhor a emoção que eu gostaria. E eu escolhi justamente as feiras e eventos por conta disso, por ter essa proximidade com o público, em que ele pode ter um contato direto com a obra.
E toda vez que eu apresento o livro, a pessoa conta uma experiência dela com o mar. E nisso já deixa de ser uma coisa entre escritor e leitor e já se torna um encontro mais amigável. Daí já passo para ela minhas experiências com a publicação e até acaba surgindo uma amizade.
Luciano: Eu costumo dizer que sou do Mato Grosso do Sul, que já é um estado do interior do Brasil, e a cidade que eu morava que é do interior do estado… de forma mais prática eu sou um verdadeiro caipira. E a primeira oportunidade que eu tive para conhecer o mar foi em Bombinhas, quando eu vim como turista. E o impacto que essa visão teve foi muito grande. Minha intenção era passar um período de férias e depois retornar, mas o mar me preencheu de uma forma tão misteriosa que eu me senti realmente envolvido; foi um impacto espiritual, místico, cultural… E voltei para minha cidade com a sensação de que eu precisava retornar.
Eu tinha um roteiro para conhecer o Brasil todo e Bombinhas foi o pontapé para essa aventura, e a cada ano eu iria para um lugar diferente. Mas depois que eu conheci o litoral catarinense eu não consegui seguir o roteiro, todos os anos eu retornava pra Bombinhas; fiquei cinco anos vindo como turista. E eu senti que eu precisava estar mais próximo do mar ao mesmo tempo que estava passando por momentos difíceis na minha cidade. E eu senti que era hora de vir para cá. Vim em uma tentativa, mas logo na primeira semana tudo já deu muito certo. A partir disso, minha vida começou um processo de transformações e a maior delas foi a produção desse livro. Nunca tive a ambição de escrever um livro nem me tornar um escritor, tudo isso aconteceu pela transformação que o mar me proporcionou.
Luciano: Acredito que na categoria de poemas esse daqui é o único. Depois virão outros, mas em outros segmentos. Penso em escrever uma sequência de três livros, todos com a temática do mar. O primeiro é esse, 101 poemas ao mar, o próximo será um livro de contos infantis e o terceiro é uma fábula, já envolvendo um lado de preservação, ecologia, que está bem solicitado agora, essa política do sustentável. Então esse terceiro livro é uma fábula que mostra um animal marinho carnívoro que depois de alguns problemas naturais em seu bioma, ele deixa de ser carnívoro e passa a viver com animais que antes eram suas presas.
Depois desses três livros com a sequência marítima, eu quero me preparar para produzir um romance.
Eu deixei a obra livre para ela ficar pronta da maneira que deveria ser, com o tempo que precisasse; até porque nessa seleção final de 101, alguns poemas, dos primeiros, não entraram, porque eu senti que não deveriam estar no livro, e teve outros que entraram já na parte final da edição. O número 85, por exemplo, eu adicionei quando o livro já estava pronto para ser impresso; acabei pedindo para o editor tirar um e adicionar ele.
Luciano: Bombinhas é uma cidade muito receptiva. Nesse projeto meu de escrever o livro, eu comentei com algumas pessoas e por conta disso vieram algumas amizades, e então eu entrei no meio de outros escritores da cidade, passei a participar desses grupos. Com isso, iniciei uma série de projetos que eles desempenham lá na cidade, projetos com a Fundação da Cultura, projetos de artes, projetos literários. Por conta dessa proximidade, veio o convite para receber uma cadeira na Academia de Letras de Bombinhas, motivo de muita satisfação. Porque lá na minha cidade eu não tinha oportunidades de me envolver no meio cultural, a cultura não é muito valorizada, não tem todo esse interesse. Então fiquei muito feliz com o convite, de poder fazer parte da primeira turma, a turma de fundação da Academia de Letras de Bombinhas.
Luciano: A dica que eu dou é que tenha muita tranquilidade, muita calma em relação a todo o processo de confecção da obra. Existem muitos escritores de primeira publicação, como eu, que devido à ansiedade de publicar, fazem as coisas com muita pressa e, depois de ter publicado, eles acabam vendo que muitas coisas podiam ser mudadas, melhoradas ou não feitas. É natural. Depois você ganha mais experiência, maturidade. Então eu procurei não ficar muito ansioso para não que isso não prejudicasse o acabamento final do livro, tanto na parte estética quanto de conteúdo. Hoje eu me vejo satisfeito com a minha obra e eu não mudaria nada.
Luciano: Eu costumo dizer que esse livro é realmente para quem quer um livro autêntico, quem quer fazer uma leitura de essência, da literatura por nicho, para criar uma obra atemporal, que as pessoas lessem daqui a dez, 20 ou 50 anos, e achassem atual. Embora existam muitas mudanças em torno do mar por conta da civilização, o mar em si é o mesmo. E eu quis transmitir isso no livro.
Mas uma dica que eu do para quem quiser ler, é que esse é um livro que precisa de entorno, um momento de isolamento, de reflexão, meditação, para que a leitura realmente atinja o que eu quis transmitir com as palavras.
Obrigado pelas respostas, Luciano! Gostamos bastante da entrevista, e esperamos que ela te mostre um lado um pouco diferente da escrita, como mostrou para nós.
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