“Calma lá”, diz o leitor atento. “Não era o Thiago que não planejava nada? O que ele está fazendo escrevendo um artigo sobre planejamento?”
Acredito que, principalmente pro aspirante a escritor, é interessante experimentar. Desafiar-se, tentar novas coisas. Não se dar por satisfeito com o seu trabalho, ter sempre algum ideal inalcançável de excelência. Isso pode ser um tanto frustrante, certamente, mas com certeza contribui para escrever histórias melhores.
Então o planejamento entra como um desafio pessoal, dar uma estudada no que eu estou fazendo e procurar formas de fazer algo totalmente diferente. O último projeto grande de escrita que me envolvi começou com planejamento praticamente zero, eu tinha uma cena na cabeça que pensei que podia ser uma boa abertura de livro (que no final virou a terceira cena). Não tinha a menor ideia do que ia acontecer depois daquele ponto.
O NaNoWriMo é uma ótima oportunidade para experimentar. É um mês só, é uma meta pequena (talvez não pra escrever em um mês, mas 50 mil palavras é um livro bem pequeno). Caso “dê errado”, na pior das hipóteses você experimentou com algo novo e aprendeu alguma coisa.
Por isso que decidi me arriscar um pouco no planejamento, e ver o que acontece. Mas parando para pensar eu não fiz um planejamento no sentido clássico, com um outline, como o Kaio menciona. Eu planejei só uns poucos aspectos, algo que pode até ser chamado de planejamento do planejamento. Então, rá, leitor atento! Ainda conta como (quase) não planejar nada! Me mantive fiel à doutrina do Stephen King!
Brincadeiras à parte, eis o que eu pessoalmente achei útil fazer na hora de planejar uma história.
Defina Quanto Planejamento Você Precisa
Não é todo o livro que precisa de um planejamento tão intricado. Algumas histórias dão mais certo com mais liberdade, um tom de improvisação. Talvez você só precise do final, ou de diretrizes bem gerais sobre a história. Talvez você queira só planejar o protagonista ou o cenário. Não ache que tudo deve, necessariamente, ser pensado com todos os detalhes possíveis.
Principalmente se pensar em planejamento te deixa ansioso ou com a sensação que nunca vai conseguir, permita-se não planejar tudo. Pense no tempo que você tem, e no que é importante. Escrever é uma questão de prioridades.
Pense na Estrutura
Vou falar desse ponto específico porque foi o que me motivou a planejar uma história. Eu tenho uma estrutura em mente, algo diferente do que eu fiz antes, e achei que poderia encaixá-la aqui. Quando digo estrutura, neste contexto, estou pensando em como o seu livro se apresenta. Quantos capítulos ele vai ter? Vão ter flashbacks? Vai ser em primeira, segunda ou terceira pessoa?
Deixa eu dar um exemplo mais claro. Suicidas, de Raphael Montes, apresenta uma estrutura distinta e facilmente reconhecível. A história é contada de três formas diferentes: o diário do protagonista, no passado; uma gravação de uma espécie de interrogatório policial, transcrita (sem detalhes narrativos fora o que se ouviria); e o protagonista narrando os eventos que estão acontecendo na frente dele, escrevendo enquanto a trama se desenrola.
Criar uma história é só uma parte do processo de escrita. O resto é quebrar a cabeça decidindo como contar essa história. Mesmo a mais incrível narrativa do mundo pode ficar terrível se ela for descrita do ponto de vista de um personagem que não vê nada, ou numa ordem esquisita. Então pense um pouco em como você quer contar a sua história, e em qual o impacto que isso terá.
Faça uma Lista de Perguntas
Eu não tenho certeza se essa é uma dica que eu ouvi e não sei onde; se for, créditos para essa entidade misteriosa. De qualquer forma, é algo que eu acho legal fazer.
Escreva uma lista curta, direta, tentando explicar a sua história para você mesmo. Não vou tentar explicar mais, vou só mostrar as perguntas que eu mesmo respondo:
1 – O que é a sua história?
2 – Por que ele será boa?
3 – O que você quer incluir?
4 – Por que as pessoas vão continuar lendo?
Cada pergunta têm várias respostas; a terceira, principalmente, pode encher páginas. Você pode ser tão simples ou detalhado quanto quiser.
Essa lista tem vários propósitos. O mais claro é planejar um pouco a sua história, colocar alguns pontos importantes, definir o gênero (que provavelmente vai ficar claro depois de responder algumas perguntas, como por exemplo “por que as pessoas vão continuar lendo”), quem sabe até esboçar uma sinopse.
A lista serve como guia de viagem, caso você se perca. Chegando em algum ponto difícil, em algum bloqueio, ou em algum lugar que você simplesmente não sabe como prosseguir, dê uma olhada na lista. Por que a sua história será boa? É por causa do tema, e da discussão que ele levanta? Ou é por causa dos personagens? Tenha isso em mente o tempo todo. Pergunte-se de você se desviou disso sem querer, ou se o desvio foi tão bom que é melhor mudar a resposta. Use essas perguntas como os bastiões da sua história, ajudando-o a mantê-la dentro daquela ideia perfeita que todo mundo tem quando imagina uma história pela primeira vez.
Outro motivo para fazer a lista é se empolgar. Escreva tudo que vai ser bom na sua história, e deixe essas respostas penduradas na parede. Dê uma olhada na lista sempre que ficar desanimado, lembrando-se do que acendeu a chama da escrita dentro de você pela primeira vez.
A última pergunta é especialmente importante. Quais conflitos vão manter o leitor lendo? Será que você vai usar muitos cliffhangers, à lá Dan Brown, ou vai procurar um equilíbrio mais sutil? Toda a vez que bater aquela insegurança que a história está ruim, coloque-se no lugar de um leitor. Você ainda estaria interessado no livro? Por quê?
Chegando no Planejamento
Bom, na realidade foi aí que o meu planejamento parou. O resto vai ser descoberto conforme escrevo, essa a ideia. Como mencionamos aqui antes, existe toda uma área cinza entre planejamento e não planejamento; você tem que achar o lugar mais confortável para você.
Muitos escritores parecem se enrolar com o nível de planejamento que precisam, ou planejam demais e perdem a empolgação. Por isso é importante experimentar, e tentar coisas diferentes. Experimente as perguntas, e veja se funciona para você! Tente pensar na estrutura antes de tudo, e veja se faz o seu estilo!
Uma ferramenta que parece bastante interessante é a Saga do Escritor, um baralho de cartas que propõe um método visual interessante para organizar, planejar e escrever o seu livro. Se você gosta da ideia de ter um mural com várias dicas visuais, post-its com comentários e lembranças sobre o seu livro, vale a pena dar uma olhada! O projeto está atualmente fazendo uma campanha no Catarse, entra lá e entenda melhor a proposta!
E o NaNoWriMo começa quarta-feira que vem! Ainda dá tempo de se comprometer e tentar participar! Vai participar, Ficcionado? E, se vai, pensou em algum tipo de planejamento?