Já passei um tempo considerável refletindo sobre sinopses.
E a dificuldade de fazer uma chega a ser engraçado. Quer dizer, como é que algo tão curto pode ser tão amedrontador?
Mas pesquisando um pouco pela internet, você logo vê que sinopses assombram vários escritores e muitos até chegam a pagar alguém para escrevê-las.
Mesmo? Vale a pena chegar a esse ponto? Sinopses são tão importantes assim?
Por Que Levar a Sinopse a Sério
Você sabe que a capa de um livro tem valor. Não interessa o quanto se diga que não devemos julgar um livro pela capa, todos fazemos.
Mas é difícil só a capa convencer alguém a ler. A função dela é chamar a atenção do leitor e fazê-lo pegar o livro (ou clicar nele).
E adivinha só, depois que você tem a atenção do leitor, o que ele vai fazer?
É isso aí, vai dar uma olhada na sinopse.
Se ela for boa o suficiente, vai fazê-lo vasculhar o interior do livro (ou abrir a amostra digital). Se ele chegar a esse ponto, é bem provável que já esteja a um passo da leitura.
Ou seja, assim como você quer uma boa capa, deve prezar também por uma boa sinopse. E ela merece ser planejada com o maior cuidado.
O Que Colocar em uma Sinopse
Existem dois tipos de sinopses: para a editora e para o público.
A primeira, você escreve para convencer alguém a publicar o seu livro. Essa é um resumo de toda a história (com os spoilers mais importantes) e precisa mostrar que você tem algo em potencial para o mercado.
A segunda, você escreve para convencer alguém a ler. E precisa despertar curiosidade e criar conexão.
Aqui vamos focar na segunda. Se quiser saber mais sobre sinopses para editoras, comenta aqui embaixo que podemos fazer um artigo a respeito.
Pois bem, quando tiver escrevendo uma para o público, os principais elementos que devem aparecer são:
- O protagonista (sobre quem é a história?)
- Uma conexão emocional (como o leitor pode se identificar?)
- O conflito principal (por que o leitor deve se importar?)
Claro que em cima disso você ainda pode acrescentar outras personagens, o antagonista e até um ou outro elemento de worldbuilding (principalmente se for uma fantasia ou ficção científica).
Só cuidado para não colocar muita coisa. Você quer que cada frase gere mais expectativa e não que o leitor se distraia.
Como Montar uma Sinopse
Depois de passar um bom tempo lendo sinopses, percebi que muitas começam com o nome do protagonista. Ou já vem logo na primeira palavra ou esclarece isso ainda na primeira frase.
“Harry Potter é um garoto comum que vive num armário debaixo da escada da casa dos seus tios.”
“Atormentado por achar que não faz o suficiente para tornar o mundo um lugar melhor, William, um respeitado psicólogo infantil…”
Se não, começa dando uma breve descrição do mundo para logo depois apresentar o protagonista.
“Após o fim da América do Norte, uma nova nação chamada Panem surge. […] Para evitar que sua irmã seja a mais nova vítima do programa, Katniss se oferece para participar em seu lugar.”
“Uma guerra está prestes a eclodir. […] Nesse momento de incertezas, um homem se apresenta como o lendário Bayaz, o Primeiro dos Magos, retornando do exílio depois de séculos. Sua presença tornará a vida de Sand dan Glokta, Jezal dan Luthar e Logen Nove Dedos muito mais difícil.”
Você pode ver que, na própria apresentação do protagonista, elas já começam a criar uma conexão: “Harry Potter é um garoto comum…”
E ela é intensificada na apresentação do conflito.
Mas calma lá. O conflito precisa ser introduzido pelo gancho inicial (aquele evento que dá o pontapé na história):
“Sua vida muda quando ele é resgatado por uma coruja e levado para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.”
Às vezes, o gancho já vem de brinde na descrição do mundo (como em “uma guerra está prestes a eclodir”) ou na apresentação do protagonista (como a menção da escolha da Katniss para salvar a irmã).
Tendo explicitado o gancho, agora sim chegamos ao conflito. Já falamos aqui que personagens bem desenvolvidas enfrentam conflitos externos e internos.
Então. Citar os externos cria mais expectativa na maioria dos leitores e muitas sinopses trazem só eles. Mas citar os internos pode dar aquela pressionada na conexão.
“[…] Jogos Vorazes, uma competição anual transmitida ao vivo pela televisão, em que um garoto e uma garota de doze a dezoito anos de cada distrito são selecionados e obrigados a lutar até a morte.” (conflito externo)
“Peeta, um garoto que ajudou sua família no passado, também foi selecionado. […] Até onde Katniss estará disposta a ir para ser vitoriosa nos Jogos Vorazes?” (conflito interno)
Resumindo: embora não haja uma fórmula pronta, muitas sinopses seguem essa ordem:
- 1. Um panorama do mundo (se necessário)
- 2. Protagonista(s)
- 3. Conflitos (e, se necessário, o antagonista)
Sempre temperando as frases com algo que crie conexão com o leitor. Enquanto o gancho pode vir em qualquer uma dessas partes: talvez ele seja a mudança no panorama do mundo, talvez seja uma escolha do protagonista ou um evento à parte.
Mais Algumas Dicas
Tempo verbal: A maioria das sinopses é escrita com verbos no presente, mesmo que o livro tenha sido escrito no passado. Assim, colocar na sinopse um verbo no passado, dá a entender que a ação aconteceu antes do livro começar… faz sentido?
Mas isso não é uma regra, é só o usual.
Frases enxutas: Claro que todo o seu livro devia ter sido escrito com o mínimo de palavras possível. Mas isso é ainda mais válido para sinopses.
A função da primeira frase é fazer o leitor chegar na segunda, e a função da segunda é fazê-lo chegar na terceira… Você não quer que ele se distraia até ter certeza que deve ler o seu livro.
Cite os tropos: eles são aqueles elementos que fazem uma história se enquadrar dentro de um gênero. Se é um romance, espera-se que tenha ao menos duas pessoas que se apaixonam; se é uma ficção científica, espera-se uma tecnologia inovadora e/ou mudanças sociais.
Seja o que for, é bom você saber quais são os tropos da sua história e mencioná-los na sinopse. Assim os leitores que gostam desse gênero vão se identificar fácil.
Uma Última Análise:
Foi pensando nesses detalhes que eu escrevi a sinopse de uma novela minha. Como já era uma história curta, eu não queria me estender muito. E ela acabou saindo em quatro frases:
Após quatro anos sozinho, Vicente faz uma visita à vila onde seu antigo companheiro de jornada se estabelecera. (protagonista e gancho inicial)
Tinha esperanças de que o reencontro o ajudasse a aposentar sua espada, a abandonar o ofício de caçador, a buscar um novo propósito… (conflito interno)
No entanto, a vila lhe guardava mais um trabalho a ser feito: enquanto crianças desaparecem de dentro de suas casas, um monstro vaga pela noite perturbando o descanso dos mortos. (conflito externo)
Que aquela fosse, então, sua última caçada. (frase de efeito para aumentar a expectativa)
Agora é a sua vez!